Reflexões sobre o
Casamento
De Tiago e Ellen White
Poucos dias
antes do que seria o sexagésimo aniversário de casamento de Ellen White, ela
relembrou com carinho a pessoa de Tiago White, seu esposo, já falecido. “Nos
casamos e assim estamos desde então. Apesar de ele estar morto, em minha
opinião ele foi o melhor homem deste mundo. A despeito do que [as pessoas]
possam dizer [...] em minha viuvez, eu não me uniria minha vida com mais
ninguém. Sinto [...] que devo preservar a memória de meu esposo.”
Tiago e Ellen
provavelmente se encontraram, pela primeira vez, no verão de 1844. Ambos eram
adventistas mileritas, que ansiosamente aguardavam o retorno de Cristo em 1844.
A despeito de sua saúde, Ellen falava em reuniões e testemunhava de sua fé para
outros. Tiago era um jovem pregador entusiasta, que em uma turnê evangelística
de quatro meses, num período de pesadas nevadas no início de 1843, converteu
mil pessoas. Em relação às suas crenças, os
dois tinham muito em comum. Poucas semanas após 22 de outubro de 1844,
quando Jesus não retornou como esperado, Ellen recebeu sua primeira visão.
Quando exatamente foi a primeira vez que Tiago ouviu a respeito dela, não se
sabe. No, entanto, ele logo se uniu ao grupo de amigos de Ellen que a
acompanhavam nas viagens para testemunhar sobre suas visões. No dia 30 de
agosto de 1846, Tiago Spinger White, 25 anos e cerca de 1,83 metro de altura, e
Ellen Gould Harmon, 18 anos e com 1,57 m, se casaram diante de Charles Harding,
juiz de paz em Portland, Maine. Esse foi o início de quase 35 anos de parceria
que terminou com a morte de Tiago, no dia 6 de agosto de 1881.
Como
recém-casados, Tiago e Ellen começaram a vida em Gorham, Maine, morando com
Robert e Eunice Harmon, pais de Ellen. Eles moravam ali quando ela deu à luz ao
seu primeiro filho, Henry Nichols, em 1847. Mais tarde, os White tiveram mais
três filhos, James Edson, em 1849, William Clarence, em 1854, e John Herbert,
em 1860. Somente o segundo e o terceiro filho sobreviveram até a idade adulta.
Durante
alguns anos, Tiago e Ellen viajaram por toda a Nova Inglaterra, o estado de
Nova Iorque e Canadá, realizando reuniões e incentivando a fé dos novos
conversos. Devido às condições primitivas das viagens naquele tempo, eles
deixaram seu filho mais velho, Henry, aos cuidados da família de amigos
adventistas, Stockbridge Howland, por cinco anos, em Topsham, Maine (EUA).
No final de
1848, Deus instruiu Ellen White, em visão, que seu esposo deveria começar uma
revista. Só no mês de julho do ano seguinte, Tiago, que não tinha dinheiro e
pouca educação formal, conseguiu lançar o primeiro jornal da igreja nascente,
Present Truth (A Verdade Presente). Essa não foi a primeira vez que Deus falou
através de Ellen para o avanço da jovem igreja. Embora nem sempre soubesse qual
o melhor modo de agir, Tiago, tanto quanto sabemos, nunca respondia: “Não!
Outra visão, não!” Ao contrário, ele sempre o herói de sua esposa, seu defensor
e editor.
Com o tempo,
Present Truth deu lugar à Adventist Review and Sabbath Herald (Revista
Adventista e Arauto do Sábado), conhecida hoje como Adventist Review (Revista
Adventista). Mais uma vez, Ellen apoiou o novo empreendimento. Certa vez,
quando Tiago chegou a casa, totalmente desanimado por não ter dinheiro para
publicar o próximo exemplar da revista, ela lhe entregou uma meia cheia de
moedas que havia cuidadosamente poupado para uma futura emergência. Havia
exatamente o suficiente para sanar a crise.
Em 1852,
Tiago e Ellen se mudaram para Rochester, Nova Iorque. A qualidade de vida era
bem primitiva, mas continuavam trabalhando juntos para o avanço da igreja. Eles
alugaram uma casa por 175 dólares por ano. A vida do casal não era fácil. Na
sala de estar abrigavam a nova máquina
de imprimir e vários jovens que ali trabalhavam, moravam com eles.
De
Rochester, os White se mudaram para Battle Creek, Michigan, em 1855, onde
compraram sua primeira casa. Durante os anos seguintes, continuaram trabalhando
juntos; Tiago pregava pela manhã e Ellen falava pela tarde. Às vezes, eram
desafiados por críticas de membros da igreja. . Na verdade, até seus filhos,
especialmente o segundo, Edson, foi um grande desafio para eles. Muitas vezes
Ellen era a mediadora entre pai e filho. A personalidade, muitas vezes rebelde
de Edson, contrastava com a do seu irmão mais novo William, que tendia a ser
mais obediente.
Tiago White
sofreu, pelo menos, cinco derrames, iniciando em 1865. Toda vez Ellen fazia
tudo o que podia para que seu esposo se recuperasse. Quando o tratamento do
instituto de saúde de Dansville, Nova Iorque, para o qual ela o havia levado,
divergiu do que ela achava que ele precisava, Ellen levou Tiago de volta para
casa, em Battle Creek. Mais tarde, foram para Greenville, Michigan. Não
querendo que Tiago ficasse inativo, Ellen pediu aos vizinhos que quando ele
pedisse ajuda para recolher o feno, deveriam dizer que estavam muito ocupados
para ajudá-lo. Ellen carregava a carroça com o feno enquanto Tiago arriava e
conduzia a parelha de cavalos. Algum tempo antes, ela fizera uma trilha na neve
com os pés, para que ele pudesse caminhar seguindo suas pegadas. Lentamente
Tiago recuperou a saúde. Ela ficou muito feliz quando, outra vez, ele pôde
voltar ao púlpito para pregar.
Ao longo dos
anos, os dois sempre oravam juntos e às vezes escolhiam um bosque perto da sua
casa para os momentos de oração em conjunto. Eram generosos em doar seus
recursos. Ellen White declara, em 1885, que ela e Tiago haviam doado trinta e
mil dólares para a obra de Deus. Eles viajavam a cavalo, de charrete, bote,
diligência e, várias vezes cruzaram os Estados Unidos de trem. Eles falavam em
escolas, tendas, bosques, igrejas, celeiros, reuniões campais e nas casas das
pessoas. Também fundaram instituições, escreveram artigos para as revistas que
Tiago iniciara e até acamparam juntos no Colorado. Logo no princípio, quando
paravam para comer, Tiago, às vezes, escrevia artigos usando a aba de seu
chapéu como escrivaninha, enquanto Ellen preparava a refeição.
Embora nem
sempre concordassem em tudo, o amor e respeito de um pelo outro somado ao
objetivo comum de preparar pessoas para se encontrar com Jesus, superava tudo.
Entretanto, quando Tiago teve a idéia de liderar uma caravana de carroças do
Texas ao Colorado, em 1878, Ellen não ficou contente. A despeito de suas
reservas, porém, ela o acompanhou para arrumar as camas, todas as noites, e
preparar as refeições. Mesmo assim, as chuvas torrenciais não facilitaram a
viagem!
A música era
parte importante do ministério que Tiago e Ellen compartilhavam. Geralmente, em
sua casa, cantar era parte dos cultos em família. Tiago compilou quatro dos
primeiros hinários usados pelos pioneiros adventistas. Certa ocasião, Tiago
estava presidindo uma assembléia da Associação Geral. A vida era difícil. No
intuito de animar as pessoas, ele convidou sua esposa e, juntos cantaram um
dueto que alcançou com sucesso o seu objetivo. Em vários aspectos, eles faziam
um trabalho de equipe.
Entre 1873 e
1876 Tiago White sofreu vários derrames cerebrais. Eles alteraram em muito seu
humor, tanto que ele decidiu ir sozinho a uma viagem de palestras, enquanto
Ellen ficou em casa, em Oakland, Califórnia, onde moravam.
Embora Ellen
não compreendesse exatamente o que estava causando esse tipo de comportamento
no seu esposo, suas cartas revelam uma mulher que amava muito seu marido. Tiago
tinha grande consideração pelas mensagens que Deus, às vezes enviava a ele por
meio da sua esposa. De fato, após admoestá-la, por carta, para que não lhe
escrevesse meros conselhos de esposa, disse-lhe que se Deus lhe enviasse uma
mensagem para ele, ela deveria enviá-la! Apesar de estar tremendamente enfermo
naquele tempo, Tiago reconhecia sua profunda necessidade da ajuda divina, por
isso não queria que sua esposa omitisse nenhuma mensagem especial para ele.
Mesmo assim, nos anos seguintes e até sua morte, em várias ocasiões diferentes
Tiago e Ellen concluíram que seria melhor trabalharem separadamente, seguido de
períodos de esforços combinados.
A despeito
do comportamento excêntrico de Tiago, resultante dos derrames, seu amor por sua
esposa nunca vacilou. Em 1874, ele recomendou que seu filho Willie desse à sua
mãe o que ela precisasse. “Tenha o mais terno cuidado para com a sua querida
mãe [...] Não concorde com suas idéias de economia, levando-os a sofrer
privações.” Sempre generosa com os outros, Ellen era bem econômica quando
precisava gastar dinheiro consigo mesma. Ellen, por sua vez, também expressava
sua preocupação e carinho por Tiago. Em 1878, quando o deixou de férias no
Colorado enquanto participava de algumas reuniões campais, ela escreveu para
ele: “Podemos escrever no inverno. Deixe isso de lado agora. Livre-se de todo
fardo e torne-se um garoto despreocupado outra vez [...] Faça caminhadas,
acampe, pesque, cace, vá a lugares onde nunca esteve antes, descanse e desfrute
de tudo. Volte, então, revigorado para seu trabalho.”
Cerca de um
ano antes da morte de Tiago que aconteceu no dia 6 de agosto de 1881, vítima de
malária, ele escreveu sobre Ellen: “Ela tem sido minha coroa de regozijo.”
Tiago morreu quatro dias após seu aniversário de sessenta anos.
Quando
alguém sugeriu a Ellen que um monumento de uma coluna quebrada fosse usado para
representar a vida de seu esposo, ela recusou, pois achava que isso desonraria
suas notáveis realizações. Eles resistiram às tempestades da vida e nada, além
da morte, quebraria essa união. Hoje, 130 anos após a morte de Tiago, seu
casamento com Ellen ainda é um exemplo de serviço para a igreja que ajudaram a
fundar.